Este ano, o município de Gaia está a investir na cultura portuguesa. Dezenas de artistas vão passar pela cidade nos próximos meses. Jorge Palma e Rita Guerra foram as primeiras vozes e receberam um aplauso gigante do público. Os bilhetes esgotaram com muita antecedência e os espetáculos intimistas marcaram quem assistiu. Seguem-me nomes como Mísia, Clã, Mafalda Veiga, entre muitos outros. Para além dos artistas, o pelouro está apostado em divulgar os espaços culturais. Quem quer conhecer, por exemplo, o Corpus Christi só tem de estar atento, dentro de dias pode apreciar o espaço. Mário Dorminsky é o vereador responsável pela inspiração nacional que vai pairar sobre a cidade….
Jorge Palma foi o primeiro a passar pelos palcos do concelho e deu o mote para um vasto programa cultural em Gaia. A Troika, seguramente, não passou por cá…
Passou. Passou pelo pelouro. Mas o Estado tem de ter a mesma atitude do pelouro: isto é, tem de ser criativo, investir nas áreas que pode (que tenham rentabilidade). No nosso caso é a rentabilidade cultural.
Qual é o orçamento deste ano para a cultura?
O orçamento aprovado em câmara para este ano cruza duas valências. Uma que tem a ver com o investimento que faz nas pessoas, para que possam aceder aos projetos culturais e que ronda 250 mil euros.
Muito reduzido…
Eu diria hiper reduzido! Tem de haver criatividade. Aliás, o programa que já apresentamos parece-me criativo.
Não lhe apetecia que o Festival Marés Vivas fosse organizado pelo pelouro da Cultura?
Não. Repare, quando o Marés Vivas é retomado, já estou eu em Gaia há seis anos. Nós, de alguma forma, recusamos o Marés Vivas. Discutimos com os promotores – na altura a Porto Eventos, agora é Porto Entertainements – e o que aconteceu foi que dissemos aos irmãos Silva que esta é uma área onde não nos queremos meter muito. Como se calhar não nos queremos meter muito com o reagge, ou com o hip hop. Logo à partida dissemos que era vocacionado para um publico muito jovem. Já há muitos eventos deste género e, por isso, não era prioridade. E mais… o programa que nós apresentaram, na altura, não era de todo atrativo. Consideramos que a programação do Marés Vivas é vocacionada para o público mais juvenil. Apesar de considerarmos isso importante, não só não tínhamos capacidade financeira para o tipo de proposta que nos estavam a fazer – nós nunca tivemos grandes orçamentos – e, como tal, não avançamos, mas também porque este evento esteve sempre ligado ao pelouro da Juventude. Deixamos rolar esta questão de uma forma perfeitamente normal e o pelouro da Juventude ficou com o evento.
E esta ‘recusa’ não pode parecer estranho aos olhos dos gaienses?
Não. Tudo é cultura…
Mas só este evento tem um orçamento muito considerável , em oposição ao orçamento da Cultura…
Isso é um problema que me ultrapassa completamente. Vou fazer aqui um paralelismo… Por que é que, por exemplo, a câmara do Porto não dá ao Fantasporto 150 mil ou 200 mil euros que é um evento que dá uma imagem internacional fortíssima à cidade (em termos turísticos é um icon da cidade, a par de Serralves e da Casa da Música) e vai pagar um X, não interessa o valor ao certo, para trazer o Primavera Sounds para o Porto. Vem de Barcelona para o Porto. Nasceu pequenino, em 82, mas agora é um grande festival. Quanto é que vai investir lá? Não sei, mas será bastante, quanto mais não seja no espaço. Quanto é que custou o Rock in Rio em Lisboa? Toda a gente se esqueceu que a câmara investiu mais de três milhões de euros só em arranjar o espaço da Belavista. E depois passou a ser utilizado por outros produtores musicais. São opções! Mas, no fundo, é tudo cultura. Em Gaia, com o tipo de eventos que temos, como nunca conseguimos atingir determinados patamares que garanta o mediatismo nacional muito forte – aliás nem muito nem médio forte – eventos tipo festival de três dias, que é o caso do Marés Vivas, consegue logo destacar-se e até integrar-se num programa nacional de festivais. Por isso é que nós até nos afastamos, e até numa lógica de programação cultural normal… quer dizer, há ali dezdias onde não há nada antes e X dias onde não há nada depois. E, até lá, continuamos a desenvolver o nosso trabalho. Por exemplo, este ano temos grupos que já pegaram. Porquê? Porque o tipo de trabalho começou a ser feito em termos do lançamento dos projetos… é diferente! Estamos a lançar os projetos com uma antecedência de quase seis meses. Estamos a vender bilhetes com muitas semanas de antecipação. Todas os bilhetes para o Ciclo das vozes femininas estão à venda.
E onde se podem adquirir os bilhetes para os concertos?
Nos locais onde decorrem os eventos e na Casa da Cultura. O que terá outra vantagem… as pessoas virem à Casa da Cultura e tirarem o Passaporte Cultural… e ver se, de uma vez por todas, ultrapassamos os 50 mil…
Esta é uma das imagens de marca…
É um ovo de colombo (esquecendo o Egg Parade, que é outro ovo de colombo)! Nós pensamos: como é que podemos divulgar todas as nossa iniciativas? Vamos criar um passaporte que seja chamativo e que nos permita uma base de dados capaz de mandar informação, as pessoas saberem que eles vão acontecer e, posteriormente, acederem a esses mesmos eventos. Por outro lado, entram todos os espaços culturais que existem em Gaia. No fundo é um produto de marketing que chama a atenção para o que existe em Gaia. E nesse aspeto funcionou…
Vamos falar um pouco das atividades… Comecemos pelo ciclo Vozes no Feminino… que ciclo é este?
Já tentei fazer isto antes. Gosto muito de vozes femininas. Já o fizemos no jazz. Todas as artistas de jazz portuguesas passaram por cá, até as mais clássicas como Maria Viana. Neste ciclo conseguimos juntar um núcleo de vozes – tirando um deles – que foi renegociado com o promotor. Cá está… quais são as condições que nós negociamos com os promotores? Cedência de espaço, participação mínima e eles dão-nos alguns bilhetes e fazem desconto para o Passaporte Cultural.
Quais são as vozes?
Começamos pela Rita Guerra [que já atuou]; continua com uma senhora que no estrangeiro é quase uma Amália, mas em Portugal ainda não é muito conhecida que é a Misia (e que vai lançar cá o novo disco); depois temos a Teresa Salgueiro, um nome marcante dos Madredeus, e que vai lançar um disco a solo; e fechamos este primeiro ‘bloco’ com a Né Ladeiras. Há outros nomes, como a Dulce Pontes, a Mafalda Arnauth que estão na ‘calha’ para entrarem num segundo ciclo, dependendo também daquilo que o produtor considerar se resulta ou não. É curioso dizer que este produtor foi do Jorge Palma, depois de conhecer o espaço, quis fazer este ciclo no Brazão. É curioso. Acho fantástico. Primeiro são concertos íntimos, não precisam de camarins. O Brazão é uma sala lindíssima e está artisticamente decorada. E tem uma particularidade… basta virar à direita e tem um parque de estacionamento gigante. Um sítio de acessibilidade facílima, seja de Gaia ou não. E não tem sido aproveitado convenientemente como um espaço de cultura urbana. Tem tido cinema, actividades ligadas ao movimento associativo, mas não tem tido este tipo eventos.
É também uma forma de divulgar o espaço?
A nossa ideia para a divulgação de espaços não está neste programa. Está no Conta-me Histórias. O Conta-me é um programa que nasce de uma forma muito interessante e que é complementar até pela própria agenda cultural. Nós temos estado a promover e trabalhar os espaços através de trabalhos fotográficos para cativar as pessoas a irem a esses espaços culturais. Ao Corpus Christi, agora estamos a trabalhar no Cine Teatro Eduardo Brazão…
Mas o Conta-me Histórias vai desenrolar-se em diferentes espaços culturais?
Sim. O Conta-me vai girar pelos vários espaços culturais de Gaia!
Quais são… o Corpus Christi…
O Corpus Christi, Auditório Municipal, Eduardo Brazão e Casa Barbot. Nesta primeira fase vai ficar por aí. Depois, ainda há a hipótese de – dependendo depois do próprio funcionamento – que é o aproveitamento de algumas áreas da Casa Museu Teixeira Lopes. Já está mais ou menos combinado um segundo bloco de promoção à música portuguesa. Eu digo isto porque muitas das coisas que ouço da parte dos músicos é que ninguém ouve a música portuguesa, ninguém dá oportunidade aos cantores portugueses… nós, mais uma vez, fazemos uma programação com muita qualidade de música portuguesa. E chama a atenção das pessoas.
Qual é o conceito do Conta-me Histórias?
Não é uma ideia nossa… mas, para nós, por um lado vai divulgar espaços, por outro divulgar a música, os cantores e a cultura portuguesa e, finalmente, são entrevistas com os principais membros ou das bandas ou com o próprio artista sobre a sua carreira, momentos divertidos e/ou terríveis que possam ter acontecido, dois bons jornalistas que vão fazer as entrevistas e, posteriormente, há um pequeno concerto intimista precisamente com a banda ou com o artista. Acho que é um upgrade em relação ao próprio concerto em si. Sinceramente! É uma forma de aproximar o público do artista. São eventos que terão um preço simpático.
Este ano o outro ovo de Colombo – o Egg Parade – vai inundar a cidade novamente?
O conceito é o mesmo. Já foram distribuídos os ovos pelas escolas que pediram, cerca de 40. E depois ficarão em exposição no GaiaShopping. É uma iniciativa que atrai muitos miúdos, traz muita visibilidade e faz uma grande interligação entre aquilo que é a vertente artística e a vertente social.