Com a reorganização da administração local à porta, poucos se arriscariam a comemorar o aniversário de elevação a freguesia. Mas, na Afurada, o executivo resolveu contrariar este pensamento e, durante quatro dias, celebrou os 60 anos. A iniciativa serviu para marcar esta data e homenagear os homens da terra. Por um lado, os que levam o nome da comunidade aos quatro cantos do nosso país, concretamente os jogadores profissionais de futebol. Por outro, as coletividades afuradenses que desempenham um importante papel na comunidade. E, finalmente, os pescadores que são a essência desta característica vila piscatória. Eduardo Matos assegura que a celebração teve apenas este significado: marcar a história desta população. Porém, o autarca está atento. E, quanto à fusão/redução de freguesias diz apenas que quer que se garantam os interesses dos afuradenses, nomeadamente a descentralização de serviços administrativos. A ser feita a anexação, Eduardo Matos prefere que seja a Santa Marinha, não estando preocupado, para já, qual o cargo que poderá ocupar na nova área geográfica.
Por que é que decidiu celebrar o 60.º aniversário da freguesia?
Porque são 60 anos. Quando nós começamos a trabalhar, pensamos logo em celebrar esta data. Ao contrário do que se possa pensar, não tem nada a ver com a ver com a reforma que está em curso. Não havia história de comemorações. Foi uma forma de evocar a data, durante quatro dias, envolvendo a própria comunidade. Fundamentalmente, serviu para fazer um encontro de contas com a história e com uma série de individualidades afuradenses. Fizemos uma homenagem a ex-atletas. Hoje nem é necessário haver alguém natural da freguesia para a Afurada aparecer nos jornais. Hoje a Afurada tem o seu proprio protagonismo. Mas há uns anos, esse conjunto de pessoas fez com que a Afurada aparecesse nos jornais, ainda que em letras muito pequeninas, a reboque dessa gente. Também serviu para homenagearmos as associações e coletividades da freguesia, dar a conhecer tudo o que têm feito em prol desta freguesia e, finalmente, homenagear aquilo que é, e continuará a ser, a força desta terra: a comunidadde piscatória! Fizemos uma homenagem a todos os pescadores. Quer os do ativo, quer aqueles que infelizmente já desaparecerem e que ao longo destes 60 anos muito fizeram pela comunidade. Portanto, o aniversário serviu para tudo isto. Foi esta a razão principal que, efetivamente, decidimos comemorar os 60 anos.
E poderá ser o último aniversário da freguesia, tendo em conta a reorganização que será levada a cabo nos próximos meses?
Podemos celebrar sempre. Quando quisermos, até todos os dias, a Afurada. Isso é que é realmente importante. Seja uma freguesia, ou não, para mim e para todos os afuradenses, podemos sempre celebrar a Afurada.
Ficou visível, no discurso do representante dos pescadores, que a população está contra esta reforma das freguesias…
O executivo, a assembleia de freguesia já se manifestou dizendo o que pensa sobre este tema. O que digo, o que posso dizer, e isso é o que vai acontecer, é que nós estamos à altura e seremos capazes de defender até ao último momento aquilo que consideramos ser os interesses quer da Afurada quer da sua população.
Que interesses são esses?
São variadíssimos. Sobretudo são interesses relacionados com a população. Agora, se me quiser perguntar se somos contra ou a favor… é verdade que o pescador subiu ao púlpito e disse que estavam contra… é a opinião do povo! Está gravada, está escrita. Nós aprovamos uma moção, em assembleia de freguesia, a dizer exatamente o que acabei de referir: até ao último minuto, nós iremos garantir e defender os interesses da comunidade.
E não tem receio que o Lugar da Afurada seja absorvido pela freguesia onde vai ser anexado?
Não.
Prefere Santa Marinha ou Canidelo?
A Afurada há 60 anos era, administrativamente falando, anexada a Santa Marinha. Foi desanexada. Há um ditado popular que diz: um bom filho à casa mãe volta. O que é normal, o que é lógico, na eventualidade dessa fusão, é que esse tal bom filho à casa mãe volte. Já estou a responder. Agora, nem sei sequer de onde virá essa ideia de podermos ir para Canidelo. Eu tudo farei, porque sou um bom filho para voltar à casa mãe.
Uma das exigências deverá ser a permanência de alguns serviços administrativos aqui na freguesia…
Com toda a certeza. Não vejo isso de outra forma. Garantir que os afuradenses, muitos deles já com alguma idade, não tenham de ir a Santa Marinha para tratar, por exemplo, de um atestado. E mais: a lei é clara. Não se vão despedir os funcionários que temos. Não se vai demolir o edifício da junta de freguesia. Não! Faz sentido é garantirmos que esse tipo de serviços permaneçam na própria comunidade, ou seja, no edifício atual da junta. Não vejo de outra forma.
E, tendo em conta que não podem ser dispensados funcionários, onde é que se encaixa o atual presidente da junta da Afurada? Sendo integrado, na nova área geográfica, o que se adequa a si? Que cargo lhe apetece preencher?
Sinceramente, neste momento, apetece-me ter saúde, até porque recentemente tive um problema de saúde, para continuar a fazer algo por esta comunidade e pela Afurada. Se é como presidente, se é como vice presidente… neste momento não me interessa. Sinceramente…
Até porque tem de esperar que seja definida a Lei de Limitação de mandatos…
O que me interessa é continuar a fazer algo por esta comunidade. E terei muito que fazer, como sempre tive. E nessa realidade da nova área administrativa continuarei a ter muito trabalho em prol da comunidade. Sinceramente, neste momento o cargo não me interessa. Não me interessa se é A, B ou C o presidente. A razão que me move neste momento, e é por ela que me vou debater, dentro dessa possibilidade da reorganização, é que possamos defender os melhores interesses da população. Defender que não seja severamente penalizada por uma reforma que, em meu entender, corre o risco de ser uma reforma feita à pressa e em cima do joelho. Ainda assim, reconheço que terá de ser feita por imposição da Troika.